Ambição pontual: digamos que você decidiu passar num concurso, e por um período fica com uma vida mais corrida do que de costume, de repente almoçando mais rápido, reduzindo o exercício físico e os momentos de lazer, se sacrificando um pouco, sim, mas com data marcada para acabar: depois da prova, você será aprovado, ou então você não vai passar, não dessa vez, mas você vai ter um período para se recuperar e uma nova data final do seu plano: você vai descansar por um tempo e retomar sua rotina de estudos. Ah, e você colocou na sua cabeça que precisa passar até a data tal, senão você vai desistir, ou dar um tempo, ou tentar o concurso tal. Beleza?
Ambição sem fim: você não sabe quando vai acabar. Não tem fim, não tem horizonte, não tem um plano definido, e sim um monte de afazeres e de metas e de prazos que vão se sobrepondo e se sucedendo sem descanso. Seus dias se transformaram numa corrida insana por desempenho máximo. Talvez você tenha ligado o piloto automático e nem se envolva mais com as coisas que faz, só vai fazendo: viver virou sinônimo de ir ticando a lista de tarefas, para que curtir se você pode produzir? Se você consegue um tempinho sem fazer nada, é tomado por ansiedade ou culpa. E quando enfim consegue um momento de lazer, tem dificuldade de desfrutar esse momento, afinal o tempo urge, é preciso entregar, performar, ter resultado, e o que interessa o agora? Interessa a conquista!
A ambição pontual costuma ser minha companheira em inúmeras fases. Muitas vezes fico apaixonada por um projeto e dou tudo de mim, mas até o projeto acabar: fico cansada, sim, e correndo, sim, mas depois descanso sem o menor pudor, sinto a alegria da conclusão, celebro, reflito sobre a realização, experimento o bem-estar de viver intensamente diferentes ciclos.
Já a ambição sem fim é um estado mental e corpóreo que acelera a respiração, acelera o ritmo e nos coloca em constante estado de alerta, transformando tudo em uma questão de vida ou morte, querendo tudo para ontem e turvando a nossa capacidade de descansar, quanto mais de contemplar, desfrutar e sentir a graça do viver. Não há realização que baste, pois quando uma coisa acontece, já queremos outra. O sonho vira meta, o hobby vira mais uma demanda, a atividade física vira um post de “tá pago”: quando tudo vira um item de um cronograma acelerado e infinito, nosso prazer vai embora e passamos a confundir felicidade com produtividade ou consumo, e alegria com exagero. Perdemos a naturalidade, a espontaneidade e o prazer de ser quem somos e levarmos a vida que levamos. Desejamos sempre ser outro alguém, com outra vida, em outro lugar.
Se a ambição pontual é necessária para concretizar tantos sonhos, locomover nossos dias e nos impulsionar para longe, a ambição sem fim é o fim do sonho: o doloroso sequestro da nossa alma, tão comum no nosso tempo. Somos atirados para longe de nós mesmos e não, não há dinheiro ou viagem para um lugar “paradisíaco” que pague pelo tempo não vivido.
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Converso muito com meu marido sobre isso. Costumo ser dessas pontuais, mas ele me ensinou sobre um conceito de jogo infinito que dá uma outra percepção: ao invés de ficar na loucura sem fim é aprender que a jornada da vida não tem fim e por isso curtir os processos, os durantes fica mais interessante. Não consegui obviamente isso ainda, maaaas, pelo menos é um ponto de vista diferente! ❤️🙏🏻
sempre é preciso ter uma dose de ambição.