Já devo ter comentado aqui que me considero uma insegura segura de si. Um inseguro seguro de si é aquele que sabe que é inseguro e já desistiu de lutar contra isso, e graças a essa aceitação ele ganhou mais força de ser. Essa força quase faz com que ele pareça uma pessoa segura. Porém, não se engane: ele continua sendo inseguro, mas é que se metamorfoseou em um inseguro menos frágil. É como um engolidor de fogo que, depois de se ferir e quase morrer, já não se queima. Ou como um equilibrista que aprendeu a andar na corda bamba.
Em alguns dias ou situações me sinto mais segura do que de costume. Às vezes me surpreendo com umas coragens que me acometem tão repentinamente como uma gripe. Em momentos assim, fico perplexa, é quase como se eu me tornasse uma estranha. Se bem que também fico perplexa com meus momentos de insegurança: olho para o que estou sentindo e me pergunto como é possível viver assim. Mas não luto contra minha sensação de precipício. O inseguro seguro de si é nada mais que alguém que aprendeu a relaxar diante da vista para o abismo. Eu olho e continuo andando.
Outro dia vi no Instagram uma frase da Mãe Stella de Oxóssi que achei genial: "A própria natureza não deve ser sentida como um peso". A insegurança aguda me acompanha há tanto tempo que, se não era parte da minha natureza quando eu era bebê, ficou sendo. E tomei a iniciativa de fazer as pazes com ela.
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Tenho muito ranço desses imperativos internéticos que ficam tentando convencer a insegura a se transformar num segura. A insegura que resolveu lutar contra a sua insegurança provavelmente vai ficar cada vez mais frustrada por ser quem é. Vai ficar se cobrando ser uma pessoa segura. Quer dizer: antes ela era só insegura, agora é uma insegura estressada, insatisfeita e frustrada.
Vivemos numa época em que não importa como você seja, está errado. Nos dizem de diferentes formas: você precisa ser diferente de quem é. Eu adoro o prazer de me expandir, vocês sabem. Gosto de evoluir, mas não a base de imperativos e ideais de como eu supostamente deveria ser, e sim à base do meu ritmo, das minhas experiências, da matéria de que é feita a minha interioridade e do diálogo com a minha insegurança.
Ficar tentando ser uma pessoa insegura tem outro risco: continuar sendo inseguro por dentro, mas forjando uma segurança por fora. O inseguro, assim, perde sua autenticidade e se transforma num falso. Ele inventa um personagem e age e fala e até pensa de acordo com ele. Mas no fundo, ele não pensa. Fica uma confusão.
Isso de inventar personagens, todos nós fazemos isso socialmente em algum grau. Mas acho mais bonito quando reivindicamos a autoria dos personagens que criamos para nós. Ou seja: quando inventamos sabendo que se trata de invenção. O inseguro que acreditou no personagem seguro que inventou para si pode até ir longe neste mundo com tanto espaço para a falsidade. Mas ele terá problemas de ordem íntima e com quem se relaciona de perto. E, além de inseguro, ele se torna temeroso, pois teme a cada instante que seu autoengano seja revelado.
A insegurança tem dificuldade para se alastrar no corpo mais firme do inseguro seguro de si. A insegurança quando se alastra vira covardia. Vi esses dias que o apresentador Bruno de Luca parece que deu no pé quando seu amigo, o ator Kayky Brito, foi atropelado. Pelas imagens gravadas, parece que Bruno sabia sim que era o amigo que tinha se acidentado, e em vez de ir para o local do atropelamento, foi para casa. Por enquanto, Bruno trancou os comentários de seu Insstagram e não deu mais explicações de sua atitude. Eu acho que seria bonito se Bruno viesse a público e dissesse: "Estou perplexo com a minha atitude. Olho para aquela covardia que tomou conta de mim e penso: caramba, que coisa, como foi grande a minha covardia, eu nunca tinha percebido como eu era capaz de covardias grandes assim. Agora vou olhar todos os dias para a minha covardia, vou me tornar íntimo dela. Quem sabe assim passo a ter mais momentos de coragem".
Acho que o inseguro que se assume como inseguro tem muito a ganhar, mas também tem a perder. Ele vai perder a imagem mais forte que tinha de si, o que não é fácil. Mas ainda que ele sonhe em ser seguro, não há sonho maior do que se aceitar e, a partir disso, buscar agir no mundo e na própria vida da melhor forma possível.
Escrevi aqui no texto de domingo (só para assinantes) que tenho pensado cada vez mais que um desejo é bom quando ele me faz bem só de existir, antes mesmo de eu alcançar o objetivo para onde aquele desejo aponta. Quer dizer: tem desejos que puxam a gente para frente, fazem brilhar nossos olhos, locomovem nossa vida de um jeito solar. A gente pensa no desejo que tem, sente esse desejo e fica contente por ele estar aqui conosco, como se o desejo fosse uma boa companhia. Tem desejo que deixa a gente tenso, frustrado, se comparando com o outro, ansioso e tristonho. Desejos assim não são boas companhias.
Pois então: eu desejo me expandir, e em muitos sentidos, desde que isso não me corte a fruição de ser quem eu sou hoje.
Não vou dizer que ser insegura é bom, mas é a realidade do meu espírito, e acho que em 2023 as pessoas que não desistiram da vida já entenderam como é perigoso quando se nega a realidade.
Um importante aprendizado que tive foi não me paralisar pela minha insegurança. Quer dizer, sou uma insegura em movimento. Continuo sendo insegura, mas não deixo de fazer as coisas que quero fazer.
Outro aprendizado fundamental foi entender que ser inseguro é diferente de ficar se criticando.
Fui percebendo que viver se torna algo quase insuportável quando criamos e nos encaixamos em autonarrativas desfavoráveis a nós mesmos. Não estou falando de inflar os fatos, já disse que sou a favor da realidade. Estou falando simplesmente de ler os fatos de uma forma generosa comigo mesma. Por exemplo: minha mãe uma vez me falou que sou bonita, mas que vivia esculhambada. Estávamos na praia e eu estava de short, descalça e despenteada. Sorri e falei: não estou esculhambada, estou natural. Mais: alguns vão gostar justamente disso em mim. Então eu ri. Então ela riu. Assim como adaptei a frase da minha mãe, vivo adaptando frases autodepreciativas que digo a mim mesma, e muitas vezes rio sozinha.
O inseguro seguro de si é um inseguro que aceitou sua imperfeição e concluiu que ser inseguro está longe de ser o pior dos defeitos. O inseguro seguro de si vive rindo de si mesmo. O inseguro seguro de si aprendeu a ser um alegre.
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Que forma bonita de pôr a coisa: uma insegura em movimento.
Acho que não existe um ser humano realmente totalmente seguro de si, a insegurança faz parte da nossa natureza. Sei lá, eu acho... hehehe! Bjks