Há alguns anos, quando minha filha era bebê e nós duas passeávamos pela rua, eu olhava para os lados e achava muito cafona quando via uma família acompanhada por uma babá uniformizada. Eu pensava: para que exigir que a babá use branco, meu Deus? Aí passou a licença maternidade e precisei eu mesma contratar uma babá. Antes do primeiro dia lá em casa, a Neide me perguntou como ela deveria se vestir. Respondi: com a sua roupa de preferência. Passaram-se alguns dias, Neide me chamou de canto e disse: olha, estou gostando de trabalhar aqui, mas sabe, eu queria vir de uniforme, será que não tem como comprar um uniforme para mim? Eu disse: hmm acho que tudo bem sim... De que uniforme você gostaria? Neide respondeu prontamente: qualquer um que seja branco! Foi assim que eu e o pai da minha filha passamos a ser uma família acompanhada por uma babá trajada de uniforme branco.
No início, eu morria de constrangimento. Inclusive, deixei de levar a Neide comigo em alguns passeios fora de casa por conta disso – e daí que a minha filha ficava chorando e eu não podia conversar nem comer no restaurante? Melhor que a Neide ficasse em casa esperando a gente do que ser acompanhada por uma babá de branco, o que suscitaria críticas de alguns transeuntes mais descolados, ou sem filhos, ou com filhos e sem babá, enfim: críticas dos outros.
Lembrei dessa história porque há alguns meses, quando nos mudamos aqui para Vinhedo – Valen, Vicente, o pai do Vicente e eu –, não contratamos uma babá, mas uma empregada mensalista. Quando me separei do pai da Valen e éramos só eu e a Valen maior, eu trabalhava em casa e não tinha diarista nem uma vez por semana. O apartamento era pequeno, Valen almoçava na escola, as roupas dela eram lavadas e passadas na casa do pai, eu almoçava uma omelete e dava conta do resto. Mas agora casada de novo, com um bebê de um ano e meio, com menos tempo do que naquela época e morando numa casa maior, e com o meu marido almoçando e jantando em casa praticamente todo dia, resolvemos contratar a Rê. Pois no primeiro dia de serviço, a Rê pede para mim e para o Ricardo: será que eu posso trabalhar de uniforme? Gosto tanto de trabalhar de uniforme!
Tenho 43 anos e nunca tinha passado pela minha cabeça ter uma empregada que trabalha uniformizada, mas foi assim que viramos uma família que tem uma empregada que usa uniforme desses de novela.
Tudo isso para falar que semana passada, no feriado, Ricardo e eu fomos passear no clube com o nosso bebê Vicente. Chegando lá, havia um casal jogando tênis. Os dois estavam com o filho de uns cinco anos. Antes de irem para a quadra, eles deram um tablet para o filho, que se sentou numa cadeira de plástico feliz da vida na frente da quadra. O filho ligou num jogo de videogame. Foi nessa hora que me sentei numa cadeira ao lado do menino, para amarrar meu cadarço. Ricardo ao meu lado com Vicente no carrinho. A mãe do menino então vira para mim e fala: “Ele está no videogame porque ele já jogou futebol hoje, ele está vindo do futebol”. Antes que eu respondesse, o marido dela, que estava tomando água, se alongando, pegando a raquete, sei lá, se aproxima e diz para mim: “Não gostamos que ele passe muito tempo com tela, é que ele já foi no futebol hoje, agora ele vai jogar um pouquinho de videogame, mas acabou de jogar futebol”.
O casal foi jogar tênis, o menino ficou no tablet, amarrei meu cadarço, continuei meu passeio com o Ricardo e o Vicente. Lembrei da babá, da empregada, do tanto que a gente se preocupa com o que os outros vão pensar da gente, resolvi escrever este texto.
Se dependesse de mim, a Neide teria trabalhado sem o famigerado uniforme branco. Mas acho que prefiro continuar sendo essa pessoa que se preocupa menos com a própria imagem e mais em atender a preferência da Neide, ou da Rê, que foi lá na loja e escolheu o uniforme da preferência dela.
E o menino do clube, ele era uma graça, mas, sinceramente, não dou a mínima se antes de jogar videogame ele estava no futebol.
2 Comentários
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eu gostaria de ter um uniforme pra trabalhar. deve ser libertador não precisar se preocupar com a roupa que você tem que usar.
Observação perfeita. Pensei tanto em quanto eu morria de vergonha de sair com a babá a tiracolo. Especialmente porque no meu primeiro filho, éramos praticamente nós dois. Meu marido trabalhava até muito tarde e eu cumpria as funções todas. Com a nova bebê, um apartamento maior, o filho mais velho e etc, sucumbi à babá, mas no maior constrangimento. Por que, né? Por que se importar com a opinião dos outros? Cada família tem a sua organização, que é o que funciona pra si e ninguém tem nada a ver com isso. Mas a gente está lá, querendo manter a imagem de autossuficiente, boa mãe ou sei lá mais o que.